Avaliação nacional da demanda de médicos especialistas percebida pelos gestores de saúde

 

Sabado Nicolau Girardi
Cristiana Leite Carvalho
Helena Lemos Petta
Jackson Freire Araújo
João Batista Girardi Junior
Vinicius de Araújo Oliveira

 

A carência de profissionais de saúde com diferentes tipos de competência, em vários locais do mundo, é um assunto que tem mobilizado tomadores de decisão e estudiosos do setor saúde. Uma demonstração dessa preocupação crescente com o tema é o fato dele ter sido objeto do Relatório Mundial de Saúde da OMS, em 2006, intitulado “Trabalhando Juntos Pela Saúde” (Working Together For Health). O relatório identifica uma crise de recursos humanos no setor saúde, estimando que faltam, no mundo inteiro, cerca de 4,3 milhões de médicos, parteiras, enfermeiras, etc. Aponta que a crise é mais grave nos países mais pobres, particularmente na África Sub-Saariana.

Também no Brasil há uma carência de trabalhadores de saúde que, mimetizando o padrão mundial, é acentuada nas regiões mais pobres do país. Parte dessa carência pode ser atribuída a uma deficiência na oferta de formação profissional, tanto no total de vagas no país quanto em sua distribuição regional. Significativos avanços ocorreram nas últimas décadas no sentido de ampliar a oferta de vagas para formação profissional em saúde, e entre eles destacamos o sucesso do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem – o PROFAE. Apesar disso, em algumas áreas de formação houve poucas mudanças, particularmente na formação de médicos especialistas.

A formação de médicos especialistas destoa do cenário geral de formação de profissionais de saúde por diversos aspectos. Em primeiro lugar, é a formação mais longa. Contando-se todos os anos de estudos formais, até 11 anos de educação superior podem ser necessários para formar determinado especialista: 6 de graduação em medicina e 5 anos de residência. Se for computada a carga horária total, a discrepância em relação às demais profissões é ainda maior. Além disso, estamos tratando da medicina, uma profissão paradigmática, com alto grau de autonomia e autoridade cultural. Como uma profissão auto-regulada, os mecanismos tradicionais de pressão do mercado, interferência estatal ou pressão da opinião pública ou não são aplicáveis ou nem sempre produzem os resultados esperados.

 

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