Cristiana leite Carvalho (EPSM/NESCON)
João Batista Girardi Junior (EPSM/NESCON)
Jackson Freire Araújo (EPSM/NESCON)
Gustavo Azeredo Furquim Werneck (EPSM/NESCON)
Ângela Dayrell de Lima (EPSM/NESCON)
Cláudia Humphreys Piloto (Centro Formador de RH Caetano Munhoz da Rocha/Estado do Paraná)
Sandra Mara Anesi (Centro Formador de RH Caetano Munhoz da Rocha/Estado do Paraná)
Claudia Cristina Santiago Gomes (ANVISA)
Ethel Resch (ANVISA)
Samia Nadaf de Melo (SVS/MS)
Izildinha Aparecida Rosa Montane (SVS/MS)
Lêda Zorayde de Oliveira (DEGES/SGTES/MS)
A educação profissional no setor saúde ocorre num contexto onde a cada momento são desenvolvidas e apresentadas novas tecnologias e formatos organizacionais que demandam dos trabalhadores um perfil caracterizado pela polivalência em detrimento da especialização. Tal situação tem determinado a necessidade de aprofundar a discussão sobre os processos de formação dos profissionais de saúde. A municipalização das ações e serviços de saúde tem gerado impacto de natureza qualitativa e quantitativa sobre o mercado de trabalho e sobre os processos formativos dos profissionais do setor, na medida em que apresentam especificidades regionais, gerenciais e epidemiológicas a serem observadas, particularmente no que diz respeito às ações referentes à vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária.
O dimensionamento da força de trabalho nos serviços de vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária apresenta grandes limitações, assim como em toda a área da saúde, conforme demonstrado por Girardi, (2000)
(…) a escassez de recursos destinados a investigações de profundidade, em âmbito nacional, tem limitado as análises sobre a evolução do mercado de trabalho da área da saúde quase que exclusivamente à interpretação de dados existentes em fontes estatísticas secundárias, com categorias e recortes setoriais e ocupacionais previamente definidos, nem sempre adequados para captar as rápidas mudanças e rearranjos que ocorreram no interior desses “mercados” ao longo dos últimos anos (Girardi, 2002.p.15).
Não existe sistema de informação ou registros estatísticos nacionais que possam demonstrar como está organizado o processo de trabalho da área de vigilância nos municípios e prover informações sobre os trabalhadores que atuam nessa área: (i) quais profissionais desenvolvem as ações de vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária? (ii) estas ações são executadas pelo mesmo profissional? (iii) qual nível de escolaridade é exigido para os trabalhadores dessa área? (iv) é exigida alguma qualificação específica para os trabalhadores de vigilância? (v) existe diferenciação nos papéis e funções exercidos pelos trabalhadores da área de vigilância segundo porte populacional do município? (vi) existe diferenciação nos papéis e funções segundo modelo assistencial/organizacional da vigilância nos municípios?
Há muito se discute a necessidade de articulação das ações das “vigilâncias”, seja pelo entendimento da “Vigilância à Saúde” como área de atuação e/ ou como modelo assistencial, ou simplesmente pelo fato de muitos municípios, executores das ações, entenderem que não se deve fragmentar o processo de trabalho do pessoal que executa ações de vigilância, seja ela de qualquer natureza. Em qualquer das vertentes que pretendamos nos aprofundar e debater, a formação deste trabalhador estará presente como prioridade, seja por meio de um processo de longa ou curta duração.
Em muitos casos a observação e a discussão junto aos estados e municípios têm apontado que a execução das ações, seja de vigilância epidemiológica, ambiental ou sanitária, tem sido feita por um mesmo trabalhador. Também a organização operacional e administrativa das “vigilâncias” em todas as esferas de governo apresenta diferenças, de forma que, agravos transmitidos por vetores e zoonoses podem estar ligados à vigilância ambiental ou epidemiológica, ou não, assim como todas as vigilâncias podem estar subordinadas à mesma gerência ou não. Frente a este dilema acrescenta-se outro debate: qual a natureza do processo formativo para este trabalhador, haja vista tal nível de diversidade técnica e organizacional?
As mudanças na educação profissional a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em 1996 podem contribuir para atender a esta diversidade, formando trabalhadores aptos a atuarem em distintos modelos, proporcionando flexibilidade na formação deste profissional a partir da articulação das competências e habilidades das áreas profissionais distintas.
A contextualização e a interdisciplinaridade devem estar presentes na educação profissional que segundo Ferretti (1997):
(…) tem conotações diferentes, na medida em que enfatiza menos a posse dos saberes técnicos e mais a sua mobilização para a resolução de problemas e o enfrentamento de imprevistos na situação de trabalho, tendo em vista a maior produtividade com qualidade (Ferreti, 1997.p.3). A formação de um trabalhador de nível técnico para atuar na área das “vigilâncias” tem como objetivo contribuir para a mudança do quadro atual, de forma a garantir um sistema nacional de vigilância da saúde que tenha capacidade de identificar e intervir nos riscos a saúde da população em tempo hábil.
O desafio de qualificar estes trabalhadores, com déficit de escolaridade básica e há muito afastados dos “bancos escolares”, para atuarem em ações de campo diversificadas – da promoção à saúde até a vigilância e controle de agravos -, requer uma definição de competências que conforme o perfil profissional deste trabalhador e permita a proposição de um referencial curricular que subsidie a elaboração de currículos por competências.
Esta pesquisa teve como propósito conhecer as atribuições dos técnicos que atuam na área de vigilância com vistas a subsidiar a formação profissional destes trabalhadores. Trata-se de um estudo piloto, realizado no Estado do Paraná, que servirá de base para a realização de um estudo nacional, ampliando-se os conhecimentos sobre as diversas situações encontradas no país com respeito aos processos de trabalho desse campo de atuação profissional.
Trabalho em saúde Rede Colaborativa para Estudos Estratégicos da Força de Trabalho em Saúde no Brasil